POLÍTICA IDEOLÓGICA DE PAULO RENATO DE SOUZA, SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO, É FAZER DISCURSO CONTRA IDEOLOGIA

Paulo Renato de Souza desconhece o curso de Pedagogia da Unicamp

Por Roberto Greene

Ao tentar defender a política meritocrática repaginada pela Secretaria de Estado de Educação de São Paulo, o Sr. Secretário da Educação Paulo Renato Souza atribui grande responsabilidade pelos problemas da escola aos professores e à sua formação, apontando as Faculdades de Educação, e nominalmente a Unicamp e Usp, pelos males da Educação do Estado de São Paulo.

Afirma o Sr. Secretário que a formação nesses cursos é muito teórica e ideológica, em que se defende a ausência de método e não se provê o professor de técnicas adequadas de ensino.

Não ingenuamente, o Sr. Secretário de Educação faz parecer que universidades públicas e privadas funcionam a partir dos mesmos princípios e condições, com os mesmos propósitos e a mesma qualidade, o que nem de longe corresponde à realidade.

Induz também a pensarmos que são as instituições públicas que formam a maioria dos professores do Estado, o que também não corresponde à realidade. No Estado de São Paulo, infelizmente, as universidades públicas paulistas são responsáveis por apenas 25% das vagas universitárias, contra 75% das privadas.

Vale dizer que essa discrepância não parte de uma opção das universidades públicas, mas foi produzida, nos últimos 15 anos, pela própria política de encolhimento do setor público e ampliação do setor privado que ele, então Ministro da Educação, ajudou a implementar.

Soa estranho, então, que a responsabilização pela suposta má formação dos professores recaia exatamente no setor minoritário, em termos numéricos, quanto à formação de professores.

Pior fica perceber que o ex-Ministro e atual Secretário de Educação do Estado desconhece os projetos e currículos dos cursos de pedagogia da Unicamp e Usp, pelos quais o Estado é responsável.

No caso do curso de Pedagogia da Unicamp, há mais de uma década temos defendido e trabalhado, como princípios norteadores de nosso currículo, a formação teórica sólida (da qual certamente não abrimos mão, já que formamos educadores e não técnicos), a pesquisa como eixo de formação, a unidade teoria-prática, sendo o nosso compromisso, como universidade pública, com a educação pública de qualidade para todos. Em nossa última reforma curricular, foi exatamente nas atividades de pesquisa e prática, e no estágio supervisionado, que logramos ampliar nossa carga horária e nossas experiências de formação.

Nada na nossa organização curricular e nos nossos planos de ensino aponta para a defesa do espontaneísmo e ausência de pesquisa sobre a prática, como afirma nosso secretário. Equivoca-se o Sr. Secretário ao confundir autonomia do professor, como intelectual que reflete sobre a própria prática e toma decisões, com ausência de método. Nossa ênfase na formação continuada a partir dos projetos pedagógicos das escolas, como trabalho coletivo, reforçam essa diferença.

Se pensar criticamente a realidade, conhecer os problemas do nosso país, dos nossos alunos concretos, dos nossos professores concretos, é visto pelo Sr. Secretário como “viés ideológico”, o que dizer da assunção de uma meritocracia cruel e desumana, que se assenta de forma alienada sobre as profundas desigualdades que marcam o nosso Estado e o nosso país, escamoteando e ocultando suas verdadeiras causas por meio do discurso falacioso da meritocracia? Não haverá também aí viés ideológico, e a questão não estaria na opção que fazermos, de nossa parte, por defender uma educação de qualidade para todos, e da parte do Governo do Estado, em manter a desigualdade entre a educação para o povo e a educação para as elites? Ou pretende o Sr. Secretário zombar da inteligência do leitor, querendo fazer crer que a política por ele desenvolvida é neutra, imparcial, desprovida de ideologia?

Apenas para ilustrar nosso compromisso e vínculo com a realidade e o cotidiano escolar, e a relevância do trabalho que realizamos, segundo dados fornecidos pela Assessoria de Imprensa da Unicamp, a pesquisa realizada nesta Universidade mais consultada neste ano de 2009 é da Faculdade de Educação e, talvez para surpresa do Sr. Secretário, trata de uma questão pungente da sala de aula: o ensino de matemática. Esse é apenas um exemplo dos estudos que realizamos e nossa produção aponta a intensidade do vínculo que estabelecemos com a escola pública, nas nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Além disso, o Sr. Secretário desconhece que o curso de Pedagogia da Unicamp foi reconhecido, durante os últimos anos, como um dos melhores do país.

Quanto à forma como encaramos a relação público-privado, vale salientar que, em muitos países em que dizemos nos espelhar, a educação pública de qualidade é um direito da população, as condições de trabalho e salário docente são garantidas sem a necessidade do apelo à alegoria do discurso meritocrático, e a maioria das vagas universitárias são públicas (como nos Estados Unidos e na nossa vizinha Argentina). E, para informação do Sr. Secretário, a verba pública não é do governo nem do setor econômico; provém dos muitos impostos que nós, trabalhadores paulistas, brasileiros, pagamos, com o suor de nosso trabalho. A educação de qualidade, portanto, é nosso direito e obrigação do Estado.

Congregação dos professores da Faculdade de Educação da UNICAMP
Roberto Greene/Fonte: Udemo

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Comentários

4 respostas para “POLÍTICA IDEOLÓGICA DE PAULO RENATO DE SOUZA, SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO, É FAZER DISCURSO CONTRA IDEOLOGIA”.

  1. Caro Greene e Glauco,
    Concordo com as críticas ao secretário da educação paulo renato. Sou professor da rede estadual e formado em pedagogia na UNESP. Um ponto, no entanto, precisamos discutir: como uma UNESP – Pedagogia – Araraquara NÃO possui um curso para formação de professores alfabetizadores?? A UNESP Araraquara Pedagogia, precisa se mexer um pouco, vcs não concordam?? O que está faltando??

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  2. Avatar de Joaquim de Camargo Lima Junior
    Joaquim de Camargo Lima Junior

    LC 1097/09: Decisão do Conselho

    BOICOTE DA UDEMO – AO GOVERNO JOSÉ SERRA –
    A Diretoria Executiva e o Conselho Deliberativo da Udemo decidiram, por unanimidade, que os associados desta entidade não deverão se inscrever nem se submeter ao processo de avaliação, de que trata a LC 1097/09.

    Veja as razões para essa decisão nas matérias no nosso site, sob os títulos:

    1. LC 1097/09: Projeto Matusalém.
    2. A nova “promoção por mérito”: você acredita em Papai Noel?
    3. Você leu a Carta da S.E.?
    4. L.C. 1097/09: UDEMO envia ofício à S.E.
    5. Professores da UNICAMP respondem ao Secretário.
    6. Serra e educação: a falta de capricho no final.

    Lembramos, ainda, que todas as entidades da educação tomaram essa mesma decisão. O jornal conjunto sairá nos próximos dias.

    Portanto, os colegas que não seguirem a orientação da entidade não poderão ser defendidos por ela, nos assuntos referentes ao processo de “promoção por mérito”, da LC 1097/09.
    http://www.udemo.org.br
    Joaquim de Camargo Lima Junior

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  3. Avatar de Luiz Adevilson Custódio
    Luiz Adevilson Custódio

    GOVERNO SERROTE:
    “Promoção por Mérito”: Projeto Matusalém

    O Governo Federal e a Caixa Econômica Federal, para fazer propaganda da Mega Sena, afirmam o seguinte:

    “A Mega-Sena é o jogo que oferece os maiores prêmios para você. Duas vezes por semana, você tem a chance de se tornar milionário…A aposta mínima, de 6 números, custa R$ 2,00.”

    Portanto, com apenas R$ 2,00, você pode ficar milionário! Nada mau, principalmente para os desavisados. O que o Governo e a Caixa não informam é que milhões de outras pessoas (é o seu caso!) precisam perder dinheiro, para que alguns poucos (nunca sabemos quem são!) possam tornar-se milionários.

    O Governo do Estado de São Paulo, na Exposição de Motivos do PLC 29/09, que veio a ser a LC 1097/09, afirma o seguinte:

    “Os integrantes do Quadro do Magistério poderão auferir importantes ganhos de remuneração ao longo de suas carreiras em função apenas de seu esforço e dedicação (valorização do mérito).” (g.n.)

    O que o governo do Estado não informa:

    1. Mesmo que todos os integrantes do Q.M. preencham todos os requisitos e sejam aprovados nas avaliações, apenas alguns deles (no máximo 20%) serão promovidos, em cada faixa. Portanto, essa promoção não depende apenas do esforço e dedicação do integrante do QM, mas, e principalmente, das disponibilidades orçamentárias do governo. Ou seja, a palavra final é do governo, e não do candidato. Se o governo alegar que não tem disponibilidade orçamentária, ele pode promover apenas 10%, 5%, ou 1% dos aprovados, uma vez que se fixou um máximo (20%), mas não se determinou um mínimo de promoções. Para ser um projeto sério, 20% deveria ser o mínimo, e não o máximo de promovidos.

    2. Com essa restrição, para que todos os atuais integrantes do QM cheguem ao topo da carreira (Faixa 5, Nível V), serão necessários, no mínimo, 191 anos. É isso mesmo que você leu: 191 anos! 35 anos, da faixa 1 para a faixa 2; 44, da faixa 2 para a faixa 3; 52, da 3 para a 4; 60, da 4 para a 5.

    191 anos são, no mínimo, seis gerações de educadores e 47 novos governos estaduais. Algo para Matusalém nenhum botar defeito. Levando-se em conta que educação, neste Estado, é sempre um projeto de governo, e nunca de Estado, só os ingênuos e os desavisados podem acreditar na continuidade desse projeto, por tanto tempo, e, pior ainda, que serão beneficiados por ele.

    3. Mesmo para os promovidos, a valorização salarial jamais será aquilo que o governo divulga, uma vez que os reajustes incidirão sempre sobre os salários iniciais, excluindo vários benefícios, como a Gratificação Geral, a Gratificação de Representação, a Gratificação de Função, a GAM (parte Vantagem Pessoal) e o Auxílio de Transporte. Sobre o ALE, a incidência também deverá ser parcial. Com isso, na faixa 1, o reajuste será de cerca de 19%; na faixa 5, de 12,5%, sobre o total de vencimentos.

    Portanto, se você acredita na Mega Sena, confia neste governo, e tem vocação para Matusalém (o personagem bíblico que teria vivido cerca de 969 anos), vá em frente, e comece a se preparar para as provas!

    E repita, todas as manhãs, antes de sentar para estudar: me engana, que eu gosto!
    Luiz Adevilson Custódio

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  4. Avatar de Edna Pedroso de Moraes
    Edna Pedroso de Moraes

    SARESP

    Orientação da Udemo para todos os seus associados, com relação ao SARESP: não participem!

    Orientem os professores para também não participarem!

    É um absurdo o que o governo paga para as empresas que se encarregam dessa avaliação; é uma vergonha o que eles querem pagar para nós, e o que eles nos exigem para implementar o SARESP.

    A nossa posição é a seguinte: a empresa, que recebe milhões para elaborar e aplicar a prova, que se encarregue de arrumar pessoal para a logística e a aplicação das provas.

    site: Udemo

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