A IMAGEM COMO RESISTÊNCIA: JOÃO ROBERTO RIPPER EMOCIONA

Por Maura Voltarelli

Andando pelas galerias de exposições do Memorial da América Latina, em São Paulo, depois do primeiro maravilhamento provocado pelo incrível desenho das curvas, pelo espaço aberto, pela liberdade e força das formas, meus olhos pararam diante de imagens a primeira vista desconhecidas.

Elas estavam reunidas em uma exposição que celebrava o 1º de maio, dia do trabalhador. E tinham todo propósito de estarem ali. Na singularidade do branco e preto, percorri diversos retratos de rostos, olhares, lugares, realidades.

A perfeição do retrato, a exatidão do instante fotográfico e o toque jornalístico saltava para fora das imagens. Carvoeiros, a seca, o homem, a terra, trabalhadores de todos os tipos, crianças, família, velhos, lugares, gente sozinha…

Em uma das imagens lembrei-me de olhar o nome de quem tirara aquelas fotografias: João Roberto Ripper. Só agora, pra fazer esse texto, fui ver quem era, onde tinha nascido. Nasceu no Rio de Janeiro, trabalhou como repórter fotográfico.

Mas João Roberto Ripper parece ser, antes de tudo, a sua fotografia, por isso, quando olhei os retratos, já o conhecia. Um trabalho extremamente social e que diz respeito ao homem, diz respeito à humanidade.

Mistério. As belas fotografias de Ripper são um mistério. Porque há qualquer coisa nelas de lírico e de forte, de poético e de pedra, de sombra e de luz, há uma estética perfeita e há o momento em que não se pensa na estética, onde ela simplesmente acontece sozinha. Imagem: http://imagenshumanas.photoshelter.com/gallery/Carvoeiros/G0000WvCUpV3nLkE/

Um sortilégio que captura o ato no espaço da denúncia que emociona. Talvez porque vi ali muito de nossa miséria, muito de nosso abandono. Ripper me causou uma solidão e ao mesmo tempo uma esperança. Um dos retratos de repente surpreendeu-me em lágrimas e foi a primeira fotografia (tirando as minhas que carregam todas as minhas dores e o peso da dita memória) que me deixou daquela forma, diante da imagem de um menino.

Ele trabalhava, tão triste, tão sozinho, em uma de nossas tantas minas de carvão. Seu olhar….até agora não consigo explicar e quem são as palavras? Não, elas não dão conta da vida, e era vida o que havia ali. Pura vida, de que talvez só mesmo a arte dê conta.

Imagem: revistacontemporartes.blogspot.com

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