Neste vídeo, Sérgio Viotti lê Amor-pois que é palavra essencial, poema de Drummond presente no livro O Amor Natural. Considerado pornográfico, o livro só foi publicado depois da morte do poeta. Os versos deste poema e de outros do livro preservam uma beleza sutil própria de experiências sexuais verdadeiras, regadas pelo prazer do corpo e pelo diálogo fértil das almas.
Amor — pois que é palavra essencial
Amor — pois que é palavra essencial
comece esta canção e tudo a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
Reúna alma e desejo, membro e vulva.Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma a expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?O corpo noutro corpo entrelaçado,
Fundido, dissolvido, volta à origem
Dos seres, que Platão viu contemplados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentram.Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara
mas, varado de luz, o coito segue.E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da própria vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o clímax:
é quando o amor morre de amor, divino.Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.
Veja mais em Educação Política:
BERTOLT BRECHT: OS DIAS DO TEU CATIVEIRO ESTÃO CONTADOS, TALVEZ MESMO OS MINUTOS
A TOCA DE KAFKA INVADE O TEATRO COM A ADAPTAÇÃO DE A CONSTRUÇÃO PARA OS PALCOS
EM ILUSÕES PERDIDAS, BALZAC JÁ TRAÇAVA UM OBSCURO E PERTURBADOR CENÁRIO DA IMPRENSA PARISIENSE
COMPOSIÇÃO DE ALICE RUIZ NA VOZ DE ALZIRA ESPÍNDOLA E ARNALDO ANTUNES