29ª BIENAL DE SÃO PAULO TRAZ UMA ARTE POLÍTICA COMO REFLEXO DA DINÂMICA DE NOSSO TEMPO

Amar Kanwar, The Lightning Testimonies, 2007

Da Agência Educação Política

A edição da 29ª Bienal de São Paulo promete levar 1 milhão de pessoas ao Parque do Ibirapuera a partir deste sábado, dia 25/09, até 12 de dezembro, para ter contato com uma arte política, engajada nas questões sociais, preocupada com a dinâmica e os fatos de seu tempo. Muitas das obras que estarão em exposição nessa Bienal retratam guerras mundiais, conflitos nacionais, a violência contra a mulher e a violência de forma geral, seja ela contra um ser humano, seja ela contra um patrimônio público ou contra si mesmo.

A tentativa é aproximar cada vez mais a arte do cotidiano das pessoas, tirá-la daquela esfera mais abstrata, distante e imaculada onde às vezes ela habita e colocá-la no seio onde vibra a corda social, no limite dos conflitos, ao lado do espectador, dividindo o espaço com as suas percepções do cotidiano e ajudando a percebê-lo de outra forma, com novos olhos, olhos tocados pela sensibilidade e pela estética da arte.

Com tanto engajamento, a Bienal nem bem começou e já despertou polêmica. A Ordem dos Advogados do Brasil alegou que as obras do pernambucano Gil Vicente retratando cenas de assassinato de grandes líderes mundiais, como George Bush, o papa Bento XVI e até o presidente Lula, incitavam a violência e não deveriam fazer parte da mostra. No entanto, as obras vão sim ser exibidas. Para o artista pernambucano com nome de dramaturgo português, toda essa manifestação contrária serviu apenas para dar mais visibilidade ao seu trabalho.

Outra série de trabalhos bastante interessante e voltada para os conflitos de nossa época é a obra Testemunhos do Relâmpago, do artista Amar Kanwar, que retrata o conflito entre Índia e Paquistão na região da Caxemira. As fotografias não são um borrão de sangue ou uma exposição de cadávares, muito pelo contrário, no trabalho do artista o que se vê são detalhes do cotidiano, cenas de melancolia, sensações bem mais próximas de uma guerra do que aquelas reproduzidas pela mídia ou vistas a olho nu. Daí a importância desta reinterpretação do real feita pela arte no sentido de amadurecer as impressões.

Amar Kanwar, The Lightning Testimonies, 2007

Vale dizer que a Bienal terá espaço reservado para todas as manifestações artísticas, portanto, pra quem vê a arte como uma realidade muito distante da sua, não faltará engajamento humano e social. Já para aqueles que gostam mesmo é daquela arte potencializada em toda sua imaginação criadora e realizadora, em todo seu delírio aparentemente ilógico, em toda sua abstração que no fundo também não deixa de se inpirar na realidade, também não faltarão opções.

A pluralidade da Bienal desse ano é muito bem vinda em tempos que também se fazem tão plurais e urgentes. Ela traz um pouco das duas coisas de que precisamos: o real representado de forma apurada e criativa e o imaginário/devaneio representados de forma a promover o encontro com a arte e com nós mesmos! Dois movimentos que no fundo são apenas um só.

A pop arte, uma das tendências da arte contemporânea,  também tem espaço reservado na Bienal desse ano nas obras do artista pop paulistano Wesley Duke.

O Tríptico: O Guardião, a Guarda, as Circunstâncias, de Wesley Duke Lee, 1966

Vi no site da Rede Brasil Atual e no site da Revista Bravo

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Comentários

12 respostas para “29ª BIENAL DE SÃO PAULO TRAZ UMA ARTE POLÍTICA COMO REFLEXO DA DINÂMICA DE NOSSO TEMPO”.

  1. Avatar de Chico Cerrito
    Chico Cerrito

    Um bom debate, gostaria de propor, até qual limite a arte, enquanto elaborada por seres humanos, pode ir? P. ex. essa obra do Gil Vicente, um cidadão (ele?) atirando ou prestes a atirar no Papa, é adequada enquanto meio de expressão humana? Eu discordo do Papa em quase tudo e sou ateu, acho até que ele deveria ser julgado pelo tribunal de direitos humanos por incitar ao não uso de preservativos, um crime a meu ver, e outras coisas, mas não seria uma agressão essa pretensa obra de arte, um incitamento a violência, as pessoas resolverem por assassinato ou pela violência extrema, eliminando o que você não concorda?
    Não estou condenando, estou propondo o debate.

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    1. Avatar de agenciaeducapolitica
      agenciaeducapolitica

      Olá Chico,
      Realmente esse é um debate a ser proposto.
      Aliás, umas das funções da arte é justamente promover debates, fazer com que surjam polêmicas.
      O fato é que a arte é um meio de expressão, ela não pode ser limitada enquanto meio de expressão. No caso do Gil Vicente, ele mesmo disse que as suas gravuras eram uma forma de extravazamento de um sentimento que ele tem em relação a muitos líderes mundiais. Algumas imagens não deixam de ser fortes, podem até incentivar a violência como você disse, mas, acima de tudo, aquilo é uma forma de expressão do eu criador na sua obra de arte, isso é próprio do movimento artístico. Agora, a questão de estimular a violência é um pouco complicada, entraríamos em outro campo, o da recepção artística, e aí tudo vale. Cada um interpreta da sua maneira. O legal da arte é isso. De qualquer forma, creio que existem outras formas de incitar a violência bem mais fortes do que a representação feita por meio das gravuras do Gil Vicente.
      Mas o debate é válido, com certeza, e a arte agradece!
      Abraço,
      Agência EP

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      1. Avatar de Chico Cerrito
        Chico Cerrito

        Talvez não tenha me expressado bem, o que quero discutir não é a proibição de obras desse tipo, nem de longe proporia tal coisa, mas sim se é realmente obra de arte ou se tem validade como tal.
        Entendo que obras de arte servem transmitir ideias, opiniões, simplesmente beleza ou sentimentos que nos façam refletir, como por exemplo a conhecida obra “O Grito” de Munch: http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/foto/0,,14724585-EX,00.jpg
        As gravuras em questão, de Gil Vicente, pelo menos para mim, transmitem apenas um sentimento, o ódio, a gratuidade da violência, a arrogância do executor, sem nenhuma reflexão posterior.
        Tal qual uma possível obra de propaganda nazista poderia transmitir.
        Até passou pela minha cabeça se não foram feitas para o autor “aparecer” na mídia.
        Detesto várias das figuras nelas retratadas (nem todas) em posição de vítimas a serem executadas, mas não vejo sentido enquanto obras de arte, enquanto proposição de ideia, de reflexão, de solução ou de conceito.
        Se ainda fosse no tempo em que se procurava “chocar a burguesia” ainda ia, não sei com qual finalidade, mas já a bastante tempo se sabe que a burguesia não se choca. Pelo menos não tão facilmente.
        É minha opinião, mas como sempre, posso estar enganado.

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      2. Avatar de agenciaeducapolitica
        agenciaeducapolitica

        Olá Chico,
        Eu entendi a sua proposta de debate.
        Achei totalmente válida.
        A forma como o artista expressou a sua insatisfação de fato é um pouco exagerada.
        Ele poderia ter demonstrado de outra forma, mais velada, artística mesmo.
        Só quis dizer que as interpretações são subjetivas e que essas discussões sobre arte vão muito longe.
        Há diversos conceitos e ideias envolvidas.
        É apenas mais uma obra que fará parte da bienal, trazendo um novo enfoque, por isso consta no texto da matéria. Para mostrar um pouco do que pode ser visto por lá.
        Válido ou não aí já é outra questão.
        Se é realmente obra de arte ou se tem validade como tal, gosto muito de uma frase do Ferreira Gullar sobre isso.
        Mesmo com algumas posições conservadoras, ele diz em um texto seu sobre poesia que “toda arte é uma manifestação, mas nem toda manifestação é arte!
        Talvez possamos começar o debate que você propôs por essa via.
        Abraço,
        Obrigada pelo comentário!

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  2. Avatar de Chico Cerrito
    Chico Cerrito

    Prezado Glauco,

    Concordo inteiramente com suas observações, e também com o texto do poeta maranhense Ferreira Gullar, com o qual posso discordar civilizadamente em alguns aspectos, mas tenho que reconhecer o enorme valor.
    Esse tipo de obra, ora exposta na Bienal, dá margem a que indivíduos desajustados preguem monstruosidades como essa: http://blogdovampirodecuritiba.blogspot.com/
    Eram coisas desse nível que eu temia.
    Só espero que o autor da obra não tenha tido essa mesma ideia nem endosse o absurdo.

    Um abraço

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    1. Avatar de glaucocortez
      glaucocortez

      Nem toda arte é ingênua. Na verdade tô achando que esse tal de Gil Vicente é um tremendo marketeiro, a começar pelo nome.

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